quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Faz de conta


Se a luz acesa não apaga
Eu canto
Quem sabe espanta
Quem sabe um mantra
No outro dia eu trabalho
E o ofício sempre funciona
Para esquecer
Atrás de um livro
escondo o rosto molhado
Porque leitura é boa fuga
É um atalho
Para espairecer
Então, faz de conta
Que nada aconteceu.

segunda-feira, 29 de agosto de 2011

Coisa séria

Gente é coisa séria
amor demais estraga
Não vem com bula
Não vem com mapa
Nem manual de instrução

Você fala pro bem não ouve
Não gosta de gente boazinha
Prefere quem não dá bola
quem anda de cara feia
quem fica na defensiva
Vai entender...
Eu quero amor em demasia
Eu quero rir até dar caimbra no rosto
Eu quero fazer o bem sem medo de ser feliz.

sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Quanta bobagem!

Tenho mania de tratar as pessoas que amo como crianças, mimar com muita frilula
todos os eles. Gosto de abraços exagerados, sacudidos, apertados, daqueles que
os adultos não ousam dar. Sim, ficam todos mal acostumados, exigentes, chiliquentos,
como meninos quando querem algo que eu não posso fazer. Mas também faço eles
esquecerem um pouco que a vida é cheia de obrigações, regras e dores. Faço eles perderem o medo do ridículo, esquecerem os problemas e gastarem tempo rindo das minhas bobagens infantis. E aproveitarem meus carinhos malucos, apertões no nariz,
cheiros no suvaco, puxões no dedo do pé. Quando chego em Salvador, lá da porta eu já canto para minha irmã: biloca, me dá uma beijoca. E falo: cadê meu pequeno-grande homem? para o meu irmãozinho. Pulo na cama do meu pai, chamo ele de meu velho branquelo. Levanto a minha mãe do chão com um abraço. Corro na sala com meu irmão pequeno, já até bati a testa no vidro por isso. A babá pensou que eu tinha problemas, não me conhecia. E daí?
Faço isso também no trabalho, com um pouco de ponderação, mas tenho mania de bobo da corte, de alegrar quem está triste, de fazer confusão quando o clima está pesado. Conto minha vida sem pudor, minhas histórias sem pé nem cabeça, assusto os moderados. Não pareço boba. Sou boba. E quando a gente faz 30 anos passa a assumir o que é.

domingo, 21 de agosto de 2011

Foi assim



Tecido embaraçado como o da rede
Um olhar
Num piscar
Um outro dia
Mais um outro
Tramando encontros
Entrelaçando
Passos e pernas
Destino cruzado
Às vezes confuso
Cama de gato
Foi assim
Nosso enredo

segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Rome Sweet Home




Demorou alguns meses para que minha alma digerisse a minha viagem à Itália,
a dor da partida (saudade) que me consumiu passasse ( um pouco) e eu conseguisse falar sobre essa experiência que encheu meu peito de felicidade.

Um grande sonho curtido anos, tão grande quanto os impressionantes monumentos que me surpreenderam, envelhecido como um bom vinho, que eu bebi cada gota
com muita vontade. Roma tem tudo que me abre o apetite, da gastronomia à arte,
devorei tudo.

O teto da Capela Sistina que me deixou boquiaberta por horas, silenciosa, olhando
cada detalhe. A Sibilla Delfica, as imagens que são mais que 3D, elas falam, elas se movem, elas se transformam de ângulo para ângulo, elas nos engolem.

A comida com sabores frescos, únicos. Os sorvetes ...amaretto, nutella, fragolla, pistachio...

As ruazinhas inacreditáveis. A andança sobrehumana para conhecer tudo...palatino, coliseu foro romano. Fiquei perdida num delicioso livro de história.

A gigantesca Fontana de Trevi, com sua energia incrível...

A água fresquinha das fontes que a gente bebe sem medo, sensação de sorver todo aquele país sensacional.

A nostalgia de Florença, num dia friozinho, com todos os seus atrativos impossíveis
de experimentar num dia só. Fartura de beleza e poesia.

O restaurante L’Arcano, o lugar mais lindo, a comida mais saborosa, o conceito
bacana...o bairro Barberini....que como se não bastasse ainda tem o Panteão...lindo, grandioso, iluminado...

Ai não foi à toa que voltei com falta de ar, sufocada de saudade, estufada de emoções e coisas para contar. Imensamente realizada e satisfeita.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Balanço



Foi culpa do mar,
Porque as ondas vêm e vão
Calmamente ou de repente
Levam velhas manias
Trazem novas águas cintilantes
Porque quando elas vêm altas
A gente mergulha fundo
E encontra tesouros perdidos
E se estão serenas
A gente se deita
Sob os raios de sol
De costas pro mar
De costas para o que virá
E assovia
E aprecia
Os braços fortes,
O peito aberto,
Os pés firmes sob a areia,
Os olhos que brilham,
O balanço.

terça-feira, 9 de agosto de 2011

Ninguém




Nomes, cargos, endereço, status. Nunca entendi bem porque as pessoas se prendem a esses conceitos. Talvez porque nunca tenha gostado de competir, de me sobressair, gosto do anonimato, gosto mais ainda do trabalho conjunto. Talvez porque eu traga no nome, a indicação de um caminho pacífico, sereno. Muito provavelmente porque minha alma acredita que somos iguais e tudo é tão passageiro. A vida é roda da fortuna, é roda viva. Hoje nobres, amanhã pobres. Não acredito no poder, acredito que podemos e precisamos transformar. E vou além, acho que não somos nada. E que a partir dessa crença, saberemos que temos muito para fazer. Não existe maior prova de elegância que a despretensão. Quem quiser competir comigo, já tem vitória garantida. Não quero passar na frente. Quero seguir em frente, leve, sem estrelas no peito, fazendo amigos que não precisam ser iguais a mim, mas que eu trate como iguais, como co-autores da minha história, que não vai dar nenhuma grande biografia. Mas vamos ter muita história pra contar, descalços e sentados num chão qualquer.